1 A visão nacional-patriótica
A primeira vertente historiográfica que surgiu sobre a Guerra da Tríplice Aliança recebeu o nome de nacional-patriótica. Tratava-se de uma visão mais tradicional, em que a maioria dos autores participou diretamente do conflito. Desse modo, narravam fatos que ainda estavam muito vívidos nas suas memórias. São exemplos desse tipo de corrente, as narrativas de Dionísio Cerqueira e do Visconde de Taunay.
Procuravam exaltar as ações e os feitos heroicos das tropas brasileiras, que estariam lutando contra um ditador sanguinário e megalomaníaco, o então presidente paraguaio Francisco Solano López.
Até a década de de 1960, foi comum aos historiadores conferirem ao Paraguai, e ao seu líder, a responsabilidade pelo conflito, que durou 6 anos e dizimou sua população, vitimando cerca de 100 000 pessoas entre aliados e guaranis. Nesta perspectiva, o país buscava uma saída para o mar, negada pelos argentinos, além da reivindicação de territórios. No entanto, teria este sido imprudente ao desafiar os vizinhos com maiores territórios, populações e potenciais bélicos.
Essa corrente tradicional sobre a guerra peca por um excessivo oficialismo e factualismo. Dessa forma, os seus personagens são tidos como modelos antagônicos que representam uma dicotomia simplista entre “Bem” e “Mal”. Outra característica é a importância demasiada na chamada História Batalha, com descrições minuciosas de aspectos técnicos militares e de táticas de guerra.
Apesar de atualmente já estar superada, essa vertente teve seu valor por conseguir deixar o legado de uma forte identidade nacional, centrada em grandes figuras históricas, como a do Duque de Caxias, ou do Marechal Osório, por exemplo.
2 A visão revisionista
A partir da década de 1960, iniciou um novo movimento que procurou compreender a Guerra da Tríplice Aliança de uma maneira distinta da visão tradicional e oficial. Foi a chamada visão revisionista.
De acordo com essa visão, o estado paraguaio era o mais progressista do bloco e havia feito seu desenvolvimento de maneira autônoma. Possuía uma economia agrícola, apesar de já em 1840 ser o único a contar com própria fundição. Estava sob domínio da família López, a qual fazia parte da elite agrícola
Em meados de 1860 teriam aumentado as conspirações contra o Paraguai, em solos brasileiros, uruguaios e argentinos, iniciando campanhas em jornais financiadas pela Inglaterra, seguidos pela invasão do Uruguai, que culminaria de fato na guerra.
A Inglaterra passou a ser a responsável pelo conflito, financiando diretamente os países componentes da Tríplice Aliança, Brasil, Argentina e Uruguai, a desencadearem tal guerra, com o objetivo de destruir o Paraguai, que teria um projeto de industrialização independente do imperialismo inglês, e lucrar com o fornecimento de subsídios para a manutenção do conflito.
No Brasil, essa versão foi profundamente implantada nas diversas escolas, através do jornalista e pseudo-historiador José Chiavenatto. Levado por motivos ideológicos relacionados com a situação política do Brasil nos anos de 1970/80, procurou desconstruir a versão tradicional. No entanto, não o fez seguindo o método histórico. Dessa forma, as versões revisionistas pecam por simplificações e nem sempre estão baseadas em investigações mais profundas.
3 As atuais correntes historiográficas sobre a guerra
Um dos pesquisadores mais respeitados sobre o assunto na atualidade é o historiador Franscisco Doratioto. Para este, a guerra deve ser entendida como consequência da evolução dos Estados na região do Prata, fruto de um intrincado jogo de interesses pela hegemonia platina e não sob uma ótica maniqueísta, como uma luta entre bandidos e mocinhos.
Dessa forma, novas abordagens estão sendo feitas no estudo desse conflito. Questões que antes foram relegadas a segundo plano passaram a ter importância.Os novos pesquisadores têm procurado abordá-lo, por um lado, de uma maneira distanciada da tradicional visão nacional-patriótica, e, por outro lado, rejeitam a perspectiva revisionista e simplista, visto que, na maioria das vezes, esta se baseia mais em postulados ideológicos do que em fatos históricos
Aspectos psicossociais relativos à mobilização, ao dia a dia nos acampamento, às motivações dos combatentes, às condições sanitárias da tropa, dentre outras, tem proporcionado estudos inéditos sobre o tema. Para isso, os novos pesquisadores tem procurado fontes primárias novas, o que nos permite concordar com o pesquisador Bóris Fausto, ao dizer que estes novos estudos são mais coerentes, tendo em vista que se baseiam em documentos e buscam, até quanto seja possível, a imparcialidade.
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