quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

ANNA NERY - A VOLUNTÁRIA DA CARIDADE




Anna Nery. Ao fundo, a cidade de Assunção devastada pela Guerra.
           Anna Justina Ferreira Nery nasceu a 13 de dezembro de 1814, na Vila de Cachoeira, localizada na província da Bahia. Pertenceu a uma família que dispunha de razoável nível social, de modo que não lhe faltavam os meios necessários para levar uma vida confortável e segura.

           Conforme o costume da sociedade predominantemente patriarcal do século XIX, Anna seguiu a cartilha prevista para as mulheres da época: casou-se jovem, em 1838, com um oficial da Armada, com quem teve três filhos. A morte precoce do marido, todavia, deixando-a viúva aos 29 anos, obrigou-a a trabalhar para sustentar a prole. Na expectativa de melhores condições para criar seus filhos, mudou-se para a capital da província, Salvador, onde viveu de maneira anônima até a deflagração da guerra contra o Paraguai.

          Em 1865, com a idade de 51 anos, presenciou a partida de dois de seus filhos e de um dos irmãos para a guerra. Na tentativa de poder acompanhá-los e sensibilizada com a difícil situação que o país se encontrava, escreveu uma carta para o Presidente da província da Bahia, Manoel Pinto de Sousa Dantas, solicitando permissão para servir nos hospitais de campanha do Rio Grande do Sul. 
          Obtida a autorização, Anna Nery foi contratada como enfermeira. Partiu para o Sul no dia 13 de agosto de 1865, incorporada ao 10º Batalhão de Voluntários da Pátria. Participou de diversas frentes importantes, como Curupaiti, Humaitá e Assunção. Na capital paraguaia, criou e manteve uma enfermaria custeada com seus próprios vencimentos.
        Mesmo tendo perdido o seu filho mais velho, Justiniano, durante a guerra, não arrefeceu sua determinação em continuar prestando caridade aos feridos nas batalhas. 
        Regressou ao Brasil com o término da guerra, em 1870. Foi uma esposa, mãe e irmã exemplar. É considerada a primeira enfermeira do Brasil. Pela sua atuação abnegada durante a luta contra Paraguai, recebeu a denominação carinhosa de Mãe dos Brasileiros, recebendo diversas homenagens, em vida e postumamente. Desde o ano de 2009, tem o seu nome escrito no Livro dos Heróis da Pátria, sendo a primeira representante feminina a constar no referido local.
Selo Anna Nery - 1967.


segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

AS MULHERES NA GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA



 
A presença feminina na Guerra foi uma constante nos Exércitos. No Brasil, eram chamadas de vivandeiras ou de chinas.
 
           Durante a Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, um verdadeiro batalhão de mulheres seguiu junto com a tropa. Nos acampamentos brasileiros, havia esposas, mães, enfermeiras e até prostitutas. Não raro, muitas terminavam por se envolver diretamente nos combates. Designavam-nas pelos termos genéricos de chinas ou vivandeiras.

            Exemplos como Florisbela, que acompanhou o 29º Corpo de Voluntários, a pernambucana Maria Francisca da Conceição, apelidada de "Maria Curupaiti" e, até mesmo, figuras folclóricas como "Maria Busca-Pé", permearam a tradição oral nos anos posteriores à guerra.

            Estudos mais aprofundados sobre a atuação das mulheres durante os anos em que perdurou o conflito, todavia, ainda são poucos, tornando o conhecimento difícil devido à carência de testemunhos, como consequência dos costumes e da erudição época, na qual, muitas vezes, relegavam-se as mulheres a segundo plano.
          Duas mulheres, entretanto, dentre as tantas anônimas que foram à guerra, tonaram-se conhecidas pela historiografia e serão objeto de estudo nas próximas postagens: Anna Nery e Jovita Feitosa.

Como impactou toda a sociedade dos países envolvidos, é considerada por muitos historiadores como uma das primeiras guerras totais de nossa época.
Charge da Semana Ilustrada, de 1865.