quinta-feira, 18 de maio de 2017

OS VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA NA GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA



             Entre o final de 1864 ao inicio de 1870, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai se envolveram em um conflito armado que trouxe grandes consequências para a história desses países. Foi a chamada Guerra do Paraguai, também conhecida de Guerra da Tríplice Aliança, maior e mais sangrento confronto militar do continente sul-americano. No entanto, apesar de sua magnitude e dos reflexos trazidos para o nosso país, o tema não é devidamente estudado nem valorizado.
Na tentativa de não permitir que os eventos vividos por nossos milhares de militares durante a saga contra López sejam dissipados devido ao tempo e esquecidos pela História, nasceu a semente deste trabalho.
            Com a invasão dos territórios do Mato Grosso e do Rio Grande do Sul pelo presidente paraguaio Solano López, o Império Brasileiro encontrou-se desprovido de recursos humanos e físicos para encarar uma guerra.
O efetivo de profissionais do Exército Brasileiro quando do conflito, orbitava em torno de 18 mil combatentes. Já as tropas paraguaias, possuíam em suas fileiras aproximadamente 80.000 homens, tendo em vista que López, desde a sua assunção ao poder, em 1862, vislumbrava ações bélicas na região do Rio da Prata.
            Para atender às necessidades militares, foram criados pelo imperador D. Pedro II, pelo Decreto nº 3371, de 07 de janeiro de 1865, os Corpos de Voluntários da Pátria:
"São creados extraordinariamente Corpos para o serviço de guerra, compostos de todos os cidadãos maiores de dezoito e menores de cincoenta annos, que voluntariamente se quizerem alistar(...).” Foi uma convocação aos brasileiros para a defesa da Pátria. Para tanto, o Imperador D. Pedro II foi o voluntário número nº 01.
            Como forma de estimular o alistamento, foram oferecidos soldos diários de 500 réis e gratificações no valor de 300 mil réis quando os soldados dessem baixa. Os militares teriam outras vantagens também, como acesso a terras agrícolas, direito a promoção por bravura, pensão por invalidez e por morte para os familiares. Em uma fase posterior, foi concedida liberdade aos escravos que combatessem.
Membros dos diversos setores sociais se alistaram. Inicialmente, muitos foram movidos pelo sentimento de indignação da ocupação do país pelos paraguaios. Negros escravos, brancos empobrecidos, e desempregados foram a grande maioria desse efetivo. Porém, houve o caso de pessoas abastadas que também se alistaram, como foi o caso de Dionísio Cerqueira e os paulistas que compunham o 7º Corpo de Voluntários. No entanto, com o prolongamento da guerra, os voluntários tornaram-se escassos e utilizou-se o alistamento, em alguns casos, forçado para completar as fileiras.
Distintivo de braço simbolizando os Voluntários da Pátria.
 Ao todo, foram criados 57 corpos. Cada corpo era comandado, preferencialmente, por um tenente coronel e possuía oito companhias, chefiadas por um capitão. Cada companhia contava com aproximadamente cem homens. Os regimentos eram originários de todas as regiões do país, com destaque para as províncias da Bahia, que cedeu maior contingente de militares, seguidas de Pernambuco, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Estima-se que em toda a luta cerca de 140 mil militares participaram da guerra.            
Os Voluntários da Pátria foram responsáveis por diversas campanhas ao longo da guerra. Dentre as principais, citamos: a retomada de Uruguaiana; a Batalha de Tuiuti; a Batalha de Humaitá, as "Dezembradas" e a Campanha das Cordilheiras.
Foram heróis anônimos que lutaram pela soberania do país, sacrificando-se pela Pátria Brasileira, quando de sua luta contra o ditador paraguaio. Após o regresso ao Brasil, o fato de negros e brancos terem ombreado pela defesa do Brasil apressaram a abolição da escravatura e sinalizava para o declínio da Monarquia.
Ainda hoje, várias ruas do país fazem referência aos Voluntários da Pátria.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

OLAVO BILAC, O POETA CÍVICO DO BRASIL


Olavo Bilac, aproximadamente em 1895.
             Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac nasceu na cidade do Rio de Janeiro, no dia 16 de janeiro de 1865. Foi poeta, cronista, escreveu livros didáticos e textos críticos sobre literatura, além de ter se interessado em questões nacionais.
           Ficou conhecido por sua atenção à literatura infantil e, principalmente, pela participação cívica. Era republicano, nacionalista, defensor do serviço militar obrigatório e dos tiros de guerra. Por esses motivos, ficou conhecido como Poeta Cívico.
            Foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras, em 1896. Fez parte do movimento literário chamado Parnasianismo. Juntamente com Alberto de Oliveira e Raimundo Correia formaram a chamada Tríade Parnasiana.
           Precursor da campanha ela alfabetização, foi eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros. Dentre sua extensa obra, destacam-se a letra do Hino à Bandeira, escrita em 1906. Tal composição veio a se tornar mais um elemento constituidor da identidade brasileira, além do poema épico "O Caçador de Esmeraldas" e o belo soneto "A Pátria".  
         Em 1916, fundou a Liga de Defesa Nacional, o que acarretou na campanha vitoriosa pela implantação do Serviço Militar Obrigatório no Brasil. Bilac desdobrou-se empreendendo uma peregrinação pelo Brasil, conscientizando a população da necessidade do Serviço Militar Obrigatório, conclamando a mocidade para servir à Pátria que tanto amava. 
           Como defensor do modelo de recrutamento, vigente há um século no Brasil, constata-se a visão de futuro desse insigne patriota, merecidamente consagrado Patrono do Serviço Militar.
            No dia 28 de dezembro de 1918, aos 53 anos de idade, Olavo Bilac faleceu na mesma cidade em que nascera. Sua morte foi destaque nos diversos jornais da época. A mesma carreta de artilharia que servira para transportar o corpo de Osório para o cemitério, conduziu-o ao sepulcro.
            Para a posteridade, a Pátria reverenciará sempre aquele que, com o coração e a ação, mostrou aos brasileiros a nobreza do dever militar.




domingo, 7 de maio de 2017

CRUZADAS: UMA MISTURA DE FÉ E AVENTURA



                O Papa Urbano II, ao incitar o início das Cruzadas, no Concílio de Clermont, em 1095, tinha por principais finalidades: expulsar os muçulmanos de Jerusalém, terra considerada sagrada para a Cristandade; restabelecer a unidade entre as Igrejas do Ocidente e Oriente, ocorridas com o Cisma em 1054; e a estabilização interna da Europa, que convivia com a presença de constantes guerras civis.
                Além disso, havia o interesse dos cavaleiros em expandir suas terras e aumentar suas riquezas através das pilhagens às cidades conquistadas. Para os camponeses, era a oportunidade de ascender socialmente e fugir das precárias condições sociais da Europa Medieval.
               Somado a isso, não se pode menosprezar o próprio misticismo que o empreendimento das Cruzadas carregava em si. A missão de libertar a Terra Santa e a ideia de Guerra Santa, associada com valores de coragem e bravura, criou as condições psicológicas necessárias para o início do movimento. O quadro a seguir traz um pequeno resumo dos resultados de cada Cruzada.
Cruzada
Resultados
Primeira Cruzada
Surgiram da necessidade de reconquistar Jerusalém e de libertar o Santo Sepulcro da dominação dos muçulmanos. Foi compreendida pela Cruzada dos Mendigos, pela Cruzada dos Nobres e pela Cruzada de 1101.
Segunda Cruzada
Foi uma resposta à conquista de Edessa pelos árabes, entretanto os cristãos não conseguiram reconquistar o território, porém conseguiram reconquistar Lisboa, em 1147.
Terceira Cruzada
Contou com a participação dos reis da Inglaterra, da França e do Sacro Império Romano. Seu objetivo era reconquistar Jerusalém, porém não foi alcançado. Entretanto, os muçulmanos garantiram a abertura da cidade para peregrinos cristãos.
Quarta Cruzada
Esta cruzada desviou-se de seus objetivos iniciais e foi dirigida para a conquista de Zara e de Constantinopla pelos cruzados. Teve um apoio velado do papa, que almejava uma reaproximação com a Igreja Cristã Ortodoxa.
Quinta Cruzada
Os cruzados resolvem investir contra Cairo, no Egito. Os árabes tentam um acordo com os cristãos, que não o aceitam. Por fim, os cruzados se retiram do Egito e são obrigados a fazerem um acordo de trégua com os muçulmanos por um período de 8 anos.
Sexta Cruzada
Não contou com o apoio da Igreja Católica uma vez que seu principal líder, Frederico II, foi excomungado. Foi firmada uma paz por 10 anos na região.
Sétima Cruzada
Após os dez anos de trégua previstos com a cruzada anterior, os embates reiniciaram. Essa cruzada foi marcada pela atuação do Rei Francês Luís IX, que devido aos seus atos de bravura em prol da fé cristã, foi posteriormente canonizado pela Igreja Católica, como São Luís.
 

quarta-feira, 3 de maio de 2017

CASTELOS NA EUROPA MEDIEVAL



Posicionados em pontos de dominância no terreno, era possível avistar a aproximação de inimigos.
             Ao período de quase mil anos que se compreende entre a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C) e a tomada de Constantinopla pelos turcos (1453 d.C) os historiadores costumam chamar de Idade Média. Nessa fase, houve um tipo de construção bastante característica e comum na Europa: Os Castelos.
            O principal fator que estimulou a criação de diversos castelos durante a Europa Medieval foram as constantes invasões. Dessa forma, a função das fortificações era a defesa de determinada região em caso de um eventual conflito. Havendo aproximação inimiga, toda a população se dirigia para as fortalezas, buscando proteção.       
            Inicialmente, eram feitos de madeira e, portanto, não possuíam grande resistência contra um ataque. Com o desenvolvimento da arquitetura e da engenharia, passaram a ser construídos de pedra, tornando-os consideravelmente mais resistentes. Sua construção poderia levar até vinte anos para terminar. 
Principais partes de um castelo medieval.
             Usualmente, os castelos eram construídos em lugares mais altos no terreno, como no alto de uma colina, garantindo boa observação em caso de possível aproximação inimiga. Muitas vezes, eram envoltos em um fosso, e o acesso ao seu interior se dava através de uma ponte levadiça. Eram rodeados, também, por altas muralhas de pedra. Em suas extremidades possuíam torres de vigilância, onde eram posicionados os arqueiros. Alguns também possuíam passagens subterrâneas como rotas de fuga e calabouços, onde ficavam os presos.
Castelo cercado por água.
             De acordo com alguns historiadores militares, as guerras medievais se travavam em torno dos castelos. Caso um senhor feudal dispusesse de uma força suficiente, ele tinha a iniciativa para o ataque. Em caso contrário, refugiava-se no interior de sua fortaleza.No final da Idade Média, os muros dos castelos foram se expandindo, dando início à formação das primeiras cidades.
            Essas fortificações implicaram na criação e aperfeiçoamento de armamentos capazes de penetrar nas grossas muralhas de pedra. Dessa forma, as forças inimigas cercavam os castelos e utilizavam armamentos como as manganelas, os trabucos, as balistas e utilizavam sapadores, tudo com a finalidade de conseguirem penetrá-los.
            As fortificações construídas durante a Idade Média contribuíram para a evolução da Doutrina Militar. Na parte da defensiva, foram capazes de conter os avanços de povos ditos bárbaros e garantir a sobrevivência das populações que viviam na comunidade. Na ofensiva, incentivaram a criação de armamentos mais desenvolvidos, capazes de romper com as barreiras das muralhas.
            Atualmente, os castelos ainda marcam parte significativa de várias regiões da Europa, servindo de atração turística e de imenso valor cultural e histórico.

terça-feira, 2 de maio de 2017

OS ZUAVOS BAIANOS NA GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA



Zuavo Baiano.

               O nome zuavo foi dado a certos regimentos de infantaria franceses, oriundos da colônia da Argélia, que lutaram na Guerra da Crimeia. Inspirados nestes, o termo passou a designar, no Brasil, as unidades de negros voluntários formadas para a Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, nos anos de 1865 e 1866.
              Na Bahia, a participação de negros teve grande importância durante as Guerras de Independência e essa influência serviu de estímulo para que o a formação de copos de Voluntários da Pátria, instituídos pelo decreto de 7 de janeiro de 1865. Já havia a tradição de algumas províncias do Nordeste em formar tropas de negros, particularmente na Bahia e em Pernambuco, que vinha desde o período colonial.
              A ideia de organizar corpos exclusivos de afrodescendentes foi do baiano Quirino Antônio do Espírito Santo. Após a autorização vinda do presidente da província, em 1º de fevereiro de 1865, começou a arregimentá-los como voluntários para formar as companhias. A maior parte destas unidades foi incorporada ao 24º Batalhão de Voluntários da Pátria.
              Além da cor da pele, os zuavos utilizaram uniformes próprios, que, dentre outras peculiaridades, traziam no quepe as iniciais ZB (Zuavos Baianos). O Conde D´Eu, genro do Imperador D. Pedro II, em sua Viagem militar ao Rio Grande do Sul (1981) os considerou como a "mais linda tropa de todo o exército brasileiro", e acrescentou a seguinte referência à 1ª Companhia, e ficou bastante impressionado com as tropas zuavas. A criação dos corpos de negros também ganhou destaque nas manchetes dos jornais e foi utilizada como exemplo para o restante da população.
              Possivelmente, o caso do zuavo mais notável tenha sido o de Cândido Fonseca Galvão, conhecido também como Dom Obá II d´África. Nasceu em 1845 em Lençóis, no interior baiano, e teria sido neto do rei Abiodum, soberano do povo Oyo. Famoso por suas vestes exóticas e possuidor de grande prestígio por parte da população afrodescendente, participou da guerra como alferes, tendo conseguido arregimentar cerca de trinta homens voluntários para compor a 3ª Companhia de Zuavos.

D. Obá em trajes de Oficial.


              No período entre 1865 e 1866, 635 homens formaram onze companhias de zuavos para combater as tropas de López. Paulo de Queiroz Duarte (1981) faz alusão, ainda, sobre a formação e envio de mais uma companhia de zuavos, esta oriunda da província de Pernambuco.

Companhias de Zuavos criadas na Bahia em 1865-66

Número
Comandante
Número de praças
1
Tenente Quirino Antônio do Espírito Santo
71
2
Tenente Marcolino José Dias
85
3
Tenente João Francisco Barbosa de Oliveira
48
4
Tenente André Fernandes Galiza
56
5
Capitão Militão de Jesus Pires
95
6
Tenente Francisco Higino Carneiro
56
7
Tenente Balbino Nunes Pereira
12
9
Alferes Manoel do Nascimento e Almeida
56
10
Alferes Eugenio José Moniz
51
11
Alferes Nicolau da Silveira
29
8
Alferes Nicolau Beraldo Ribeiro de Navarro
76
Total de Praças
635

Fonte: KRRAY, 2005.