segunda-feira, 1 de maio de 2017

O PODER ESPIRITUAL E O PODER TEMPORAL NA IDADE MÉDIA


Coroação de Carlos Magno pelo Papa Leão III, na noite de Natal do ano 800 d.C.


           A passagem do Século IX marcou o início de um período da história medieval europeia: o renascimento, ou pelo menos a tentativa, do Império Romano do Ocidente. A pintura acima representa a coroação do rei dos Francos, Carlos Magno, pelo Papa Leão III, ocorrida no advento do ano de 800 d. C, na Basílica de São Pedro, na cidade de Roma. A autoria da imagem (1375-1379?), como na maioria das gravuras pintadas durante a Idade Média, é desconhecida, tendo em vista que a arte de então visava retratar de maneira clara e direta elementos e valores da vida religiosa, não objetivando, obrigatoriamente, o lucro ou a estética.
            Analisando de maneira mais detalhada a ilustração, perceberemos alguns aspectos que se fazem necessários para a compreensão da relevância do acontecimento. Na parte central da tela, observamos a figura de Carlos Magno ajoelhado, em posição de submissão e de reverência, recebendo a consagração de imperador dos romanos, pelo líder da Cristandade Ocidental, o Papa Leão III. Essa cena revela a fusão entre o poder temporal com o poder espiritual, tendo sido a base para a formação da sociedade medieval.  
            A aproximação  da Igreja com  o poder temporal começou a ter maior destaque quando Pepino, o Breve, pai de Carlos Magno, doou ao Papa grande quantidade de terras após suas conquistas contra o reino pagão dos lombardos. A ligação da instituição com os reinos germânicos, particularmente com o dos francos, de acordo com o historiador medievalista brasileiro Hilário Franco Júnior, garantiu maiores possibilidades de atuação à Igreja (pag. 89). A sobrevivência da Igreja Católica diante das ameaças territoriais e doutrinárias, só se concretizou com a aliança do Papa com esse povo.
            A base do poder espiritual desempenhado pela Igreja pode ser entendida como advinda da fusão de valores romanos, preservados pela instituição, com o poder temporal, adquirido da aliança com os francos. O auge dessa combinação harmônica de valores deu-se, exatamente, com a coroação de Carlos Magno pelo Papa Leão III. O ocidente europeu uniu-se, pelo menos temporariamente, tanto política como espiritualmente na figura do novo imperador dos romanos.
            O Império Carolíngio teve, portanto, a missão de expandir a fé cristã para as demais regiões do continente. Nesse sentido, Carlos Magno desempenhou papel fundamental ao cristianizar os povos dominados, através de várias conquistas militares.



A espada, na mão direita, representa o poder temporal. O Globo com a Cruz, na mão esquerda, representa o poder espiritual, com a expansão da fé Cristã para toda a Europa Ocidental.
             No entanto, após a morte de Carlos Magno e com o enfraquecimento do poder político advindo da fragmentação imperial, a Igreja passou a exercer maior domínio sobre o poder temporal. Diferentemente do que se possa imaginar, essa transferência da influência dos reis para o papado não foi pacífica. Ocorreram diversas disputas, tendo sido a mais famosa a Querela das Investiduras, que só veio a ser resolvida com a assinatura da concordata de Worms, assinada em 1122.
            O progressivo enfraquecimento do poder real permitiu o aumento da influência da religião no campo político. Nesse sentido, o Século XIII assistiu ao seu "momento de maior força e prestígio, colocando-se acima de toda a sociedade" (JUNIOR, 1989, p. 104). Contudo, paralelamente à concentração de poder na figura do papa, no Baixa Idade Média as próprias contradições da instituição e a gradual mudança de mentalidade (humanismo) começaram a ruir as bases desse domínio do reino dos céus sobre a terra.
            Portanto, durante grande parte da Idade Média, a influência do Cristianismo, pregado através da Igreja Católica, foi a base para o pensamento daquele período. A aliança que ocorreu,inicialmente, entre o papa com os reinos francos possibilitou à Sé Romana ampliar seu poder, fundindo o espiritual com o temporal. Após o declínio da Dinastia Carolíngia e já tendo conseguido evangelizar praticamente toda a parte ocidental do continente, a Igreja exerceu grande influência, tornando-se senhora da Europa. Esse domínio, porém, não foi completamente pacífico ao longo dos séculos. Com o tempo, essas interferências terminariam por provocar a crise que levaria à Reforma.

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