Coroação de Carlos Magno pelo Papa Leão III, na noite de Natal do ano 800 d.C. |
A passagem do Século IX
marcou o início de um período da história medieval europeia: o renascimento, ou
pelo menos a tentativa, do Império Romano do Ocidente. A pintura acima representa
a coroação do rei dos Francos, Carlos Magno, pelo Papa Leão III, ocorrida no
advento do ano de 800 d. C, na Basílica de São Pedro, na cidade de Roma. A
autoria da imagem (1375-1379?), como na maioria das gravuras pintadas durante a
Idade Média, é desconhecida, tendo em vista que a arte de então visava retratar
de maneira clara e direta elementos e valores da vida religiosa, não
objetivando, obrigatoriamente, o lucro ou a estética.
Analisando de maneira mais detalhada a ilustração,
perceberemos alguns aspectos que se fazem necessários para a compreensão da
relevância do acontecimento. Na parte central da tela, observamos a figura de
Carlos Magno ajoelhado, em posição de submissão e de reverência, recebendo a
consagração de imperador dos romanos, pelo líder da Cristandade Ocidental, o
Papa Leão III. Essa cena revela a fusão entre o poder temporal com o poder
espiritual, tendo sido a base para a formação da sociedade medieval.
A aproximação da
Igreja com o poder temporal começou a
ter maior destaque quando Pepino, o Breve,
pai de Carlos Magno, doou ao Papa grande quantidade de terras após suas
conquistas contra o reino pagão dos lombardos. A ligação da instituição com os
reinos germânicos, particularmente com o dos francos, de acordo com o
historiador medievalista brasileiro Hilário Franco Júnior, garantiu maiores possibilidades de atuação à Igreja (pag. 89).
A sobrevivência da Igreja Católica diante das ameaças territoriais e
doutrinárias, só se concretizou com a aliança do Papa com esse povo.
A base do poder espiritual desempenhado pela Igreja pode
ser entendida como advinda da fusão de valores romanos, preservados pela
instituição, com o poder temporal, adquirido da aliança com os francos. O auge
dessa combinação harmônica de valores deu-se, exatamente, com a coroação de
Carlos Magno pelo Papa Leão III. O ocidente europeu uniu-se, pelo menos
temporariamente, tanto política como espiritualmente na figura do novo
imperador dos romanos.
O Império Carolíngio teve, portanto, a missão de expandir
a fé cristã para as demais regiões do continente. Nesse sentido, Carlos Magno
desempenhou papel fundamental ao cristianizar os povos dominados, através de várias conquistas militares.
No entanto, após a morte de Carlos Magno e com o enfraquecimento
do poder político advindo da fragmentação imperial, a Igreja passou a exercer maior
domínio sobre o poder temporal. Diferentemente do que se possa imaginar, essa
transferência da influência dos reis para o papado não foi pacífica. Ocorreram
diversas disputas, tendo sido a mais famosa a Querela das Investiduras, que só veio a ser resolvida com a
assinatura da concordata de Worms,
assinada em 1122.
A espada, na mão
direita, representa o poder temporal. O Globo com a Cruz, na mão esquerda,
representa o poder espiritual, com a expansão da fé Cristã para toda a Europa
Ocidental.
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O progressivo enfraquecimento do poder real permitiu o
aumento da influência da religião no campo político. Nesse sentido, o Século
XIII assistiu ao seu "momento de maior força e prestígio, colocando-se
acima de toda a sociedade" (JUNIOR, 1989, p. 104). Contudo, paralelamente
à concentração de poder na figura do papa, no Baixa Idade Média as próprias
contradições da instituição e a gradual mudança de mentalidade (humanismo) começaram a ruir as bases desse
domínio do reino dos céus sobre a
terra.
Portanto, durante
grande parte da Idade Média, a influência do Cristianismo, pregado através da
Igreja Católica, foi a base para o pensamento daquele período. A aliança que
ocorreu,inicialmente, entre o papa com os reinos francos possibilitou à Sé Romana
ampliar seu poder, fundindo o espiritual com o temporal. Após o declínio da
Dinastia Carolíngia e já tendo conseguido evangelizar praticamente toda a parte
ocidental do continente, a Igreja exerceu grande influência, tornando-se senhora da Europa. Esse domínio, porém,
não foi completamente pacífico ao longo dos séculos. Com o tempo, essas
interferências terminariam por provocar a crise que levaria à Reforma.
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